É, quanto tempo. Bom, hoje irei
escrever sobre uma experiência de Vida que adquiri nesta semana, na verdade
depois de passar por um processo de 1 mês e pouco.
Durante a minha elaboração por esses tempos me veio alguns momentos de revolta. Então
percebi que a minha razão poderia defender-se contra a sandice de afetos
pueris. Quero dizer que o meu racional poderia prevalecer em relação ao meu
emocional em certas ocasiões. Porém, graças ao meu verme chamado de coração,
que insiste em roer a minha fria solidão desses momentos, consegue sempre
deixar-me prostrada diante dos acontecimentos memoráveis de Minha Vidinha
otária. Otária?! Sim. Sendo mais plácida, poderia chamar-me de bobo-da-côrte.
O gozo que me sustenta é de encontrar no outro um motivo de ajudá-lo quando, na
verdade, estou buscando a minha própria ajuda. Não existe amor quando não se
tem Amor próprio. E nesta minha miséria-de-sempre, mais uma vez, me
encontro no ciclo da angústia. Nenhuma criatura foi capaz de transmitir a mim
um suspiro de ajuda convertido em amor... enquanto a minha doação pelo outro
era doentia. É questão de limite, também. Além do Amor próprio, insisto. Mesmo
por tudo, mais vasto é o meu coração em sua busca incessante pelo preenchimento
de meu vazio por amor. Quando estou fraca é que me sinto forte. Eis logo abaixo
uma passagem da bíblia para explanar o que pretendo transmitir sobre o Amor
próprio.
Naquele
tempo, um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade,
perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”. Jesus lhe disse: “O que está escrito na Lei? Como lês?”. Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo
o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua
inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!”. Jesus lhe disse: “Tu
respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. Ele, porém, querendo
justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”. Jesus
respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu na mão de
assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora,
deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava
descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro
lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o
homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que
estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho
nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma
pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de
prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: ‘Toma conta dele! Quando
eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais’”. E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que
caiu nas mãos dos assaltantes?". Ele respondeu: “Aquele que usou de
misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.
Lucas
10, 25-37
#-#-# (In) Blurry Oblivion #-#-#
O que dizer quando reproduzimos
as nossas ações durante toda uma Vida... e quando percebemos este nosso ato
insano, o que fazer? Bom, diga-se de passagem que para entrarmos no estágio de
percepção de tal reprodução doentia é necessário passar pelo sofrimento.
E durante o sofrimento encontrar uma forma de enfrentar os problemas. Deus não
permite que soframos mais do que possamos sofrer, não se preocupe.
Confesso que, no meu caso, me veio
revolta em meio ao sofrimento, como citei mais acima. Isto depende de cada
história de Vida. O que não podemos fazer é esconder os nossos sentimentos.
Temos que senti-los a todo o vapor, pois usar máscaras para nós mesmos é buscar
um sofrimento eterno.
Pois bem, durante a semana que passou
assisti na televisão um programa do Pe. Fábio de Melo. E tudo o que ele
falou é exatamente o que eu precisava ouvir. Somos águias. A nossa
vocação é ser águia, pois buscamos o alto. Mas, até mesmo a águia, necessita se
retirar quando sente que o seu vôo não está qualificado para continuar em sua
jornada. A águia se retira quando percebe o seu limite, quando percebe que não
pode mais voar, e que necessita cuidar de si mesma naquele momento a fim de se
estabelecer.
E nós, o que fazemos quando percebemos
que chegamos no nosso limite? Digo que nem chegamos a perceber o nosso limite
quando reproduzimos as nossas ações. Gostamos de continuar gerando expectativa
por algo que o outro não pode nos oferecer. E este outro também não enxerga que
não pode nos oferecer o que queremos e, mesmo assim, continua em sua inércia.
Então, devemos esperar que o outro saia de sua inércia? Não... por favor. Para
o outro sair de sua zona de conforto seria assunto para outra discussão. Quero
falar de nós que ocupamos o lado da doação numa relação.
Por que tanta doação, sendo que
não sabemos o nosso limite, digo, não sabemos quando parar de nos doar? Na
verdade nem sabemos nos doar, pois não amamos a nós mesmos! Não podemos
doar algo que não temos. E através deste subterfúgio buscamos na doação a nossa
própria doação, digo, buscamos a nossa própria ajuda ajudando ao outro, como
citei mais acima. Isso é muito sério, pois temos um vazio grande em nós
e projetamos no outro a possibilidade de nos encontrar, sendo que para isto
temos que entrar em contato com nós mesmos e aprender a lição de amar
primeiro a si próprio para encontrar o amor do outro.
Não quero entrar a fundo em minha
história de Vida, pois eu ainda nem sei o que fez com que eu chegasse na
conclusão de que busco preencher um vazio imenso com amor. E cada um de nós
sabe sobre o seu vazio, ou não, enfim. Quero somente nos livrar de um erro que
cometemos sempre por não saber lidar diferente, na verdade, por nunca termos tido
a oportunidade que nos apresentassem o para o tal "diferente". Com
isso, reproduzimos os mesmos atos ao invés de produzimos o novo através da
diferença.
Nisso, quero usar a passagem bíblica.
Imagine nós, que estamos nos doando incansavelmente, quando na verdade nem
sabemos o que estamos fazendo, mas, até então, achamos que isso tudo é
"doação pelo outro". E quando não há reciprocidade entramos num
estágio onde nos sentimos roubados e maltratados, como os assaltantes
fizeram com o homem que descia de Jerusalém para Jericó. A partir de então...
eis que entra a grande questão. Uma pessoa que consegue amar ao outro com a si
mesmo conseguiria perceber que estava sendo seguida por assaltantes. Sendo mais
clara, uma pessoa que tem amor próprio chegaria a conclusão que já basta,
ali é o limite.
- Vou mudar o meu caminho,
pois estou sendo perseguido e tenho amor a Minha Vida, e não quero ser roubado
e maltratado, pois Deus é Amor e Ele quer o meu bem. Tenho que deixar o outro
livre para tomar as suas decisões sozinho, mas estarei disponível caso
necessite de alguma ajuda, pois não posso mais aprofundar numa relação onde o
outro não pode corresponder aquilo que quero. Se ele quer outra coisa irá
buscar esta outra coisa e eu irei buscar o que realmente quero, o que será bom
para mim. Eu me amo e amo ao outro, então penso que nós dois podemos sermos
felizes a partir do momento que não nos ferirmos.
Pronto. Fácil?! Não, meus caros... não
para nós que não aprendemos agir da maneira citada acima. Depois de
reproduzirmos e sofrermos muito, um belo dia, depois de uma exaustiva
elaboração cheia de insights, algo brota em nossas mentes. Bom, não é
bem assim... mas isso seria para uma outra discussão. Acredito que existe um sofrimento-mor
ocasionado de uma reprodução-mor, mas deixarei para outra ocasião. Sim,
mas até tal belo dia foi necessário passar pelo ciclo da angústia: reproduzir
- sofrer - embaçar o sofrimento - reproduzir - sofrer - embaçar o sofrimento -
reproduzir - (...) - elaboração e insights - nova percepção - buscar o novo
através da diferença.
Bom, nós sim perpetuamos neste ciclo
da angústia por tempos e tempos. Não aprendemos agir diferente, insisto, e
tivemos que aprender sozinhos através de diversos sofrimentos. É por
medo que agimos assim... preferimos a mesmice-de-sempre do que enxergar
o novo. Acredito que tivemos tanto desapontamentos em nossas Vidas que
chega num momento que ficamos calejados com a reprodução e logo com o
sofrimento. É algo normal... vira rotina. É inconsciente, diria. E é
muito triste, também.
Voltando a passagem bíblica. Passaram
várias pessoas perto do homem caído ao chão e somente o samaritano, uma
pessoa que não necessitava do reconhecimento de uma religião como o
sacerdote e o levita, foi capaz de dar a assistência necessária para tal homem.
A misericórdia que o samaritano usou para com o homem colocou em si a
característica de bom, o bom samaritano.
Então, será que precisamos de um
bom samaritano em nossas Vidas? Acredito que aprendemos a partir do
outro e com o outro. Se estamos num mar parado o que devemos fazer é buscarmos
um mar onde possa nos dar frutos. Acredito que um bom samaritano é essencial
para nosso progresso e, principalmente, para perpetuarmos no estágio de buscar
o novo através da diferença. É necessário estarmos num ambiente bom para que
possamos encontrar um bom samaritano. E, antes de tudo, é de extrema
importância averiguarmos quem é o outro que estamos nos relacionando. Claro que
não podemos julgar ninguém e devemos suspender sempre os nossos a priori, pois
cada ser humano é um universo distinto digno de respeito.
Porém, devemos agir no momento que
percebemos que o outro não pode atender as nossas expectativas. Caso
contrário, podemos sim nos doar, aos poucos, sem exageros pueris. Assim como a águia
sabe quando se retirar para cuidar de si mesma, saibamos também nos retirar
para cuidarmos mais de nós mesmos, a fim de não nos ferirmos. Que saibamos
ter mais amor a nós mesmos para destinar amor ao outro, cuidando de nós mesmos
e do outro, de forma pacífica.
Em esquecimento-embaçado
deixo-me por aqui, convincente de que o Amor próprio está sempre na superfície
de nossos esquecimentos embaçados.