Discurso de um quase vencedor
I
Levando aquilo do meu incomum para o mais próximo
possível,
Beirando um grande satélite natural que reluz sobre o
couro quase enrugado.
Machuca, mas não neste momento,
Apenas anestesia... mente e corpo... alma e coração.
Porém, não passa de um grande devaneio...
Há algo a ser contado, há algo a ser descoberto
Por mim, somente por mim.
Andando por aí, sem rumo definido...
Observando o decreto imposto neste plano sem fim.
“Cala-te não se importes comigo!”
O que importa quem está ao lado?
(aqui nada disso importa).
Percebo que existe um espelho vazio,
Onde não existe minha imagem e nem a do outro.
Uma simbiose aterrorizante entre a dor e o silêncio.
Como uma prostituta, na sua obrigação faceira de cada dia,
que doa a sua noite por dinheiro
E no fim de tudo, tem as costas de um qualquer como
resposta.
Na busca de um prazer correspondido, eis a sua função
imediata e nada mais.
As suas lágrimas interceptam a sua essência e existência
Daquilo que nunca será corrompido por aquilo que todas as
noites corrompe-se por entraves totalmente distintos.
Entraves que machucam o seu significado de inocência em
sua tenra infância,
Entraves que mancham a sua dignidade, para alguns,
Entraves que enchem as suas vísceras de elementos inimagináveis.
Um pedido de socorro... quem sabe.
Suplique, então! Alguém pode lhe ouvir?
Continue suplicando...
Aos horrores de uma Vida retirante: onde o gozo é inexistente.
II
Ao olhar de um ser que é incapaz do reconhecimento de alguém,
Um olhar penetrante... tão penetrante quanto aqueles
diversos entraves que enchem o seu véu obscuro da mais terrível solidão a cada
noite.
A dor deste penetrar é inesquecível... não há nada que
possa fazê-la desaparecer.
Nada rebuscado, nem mesmo uma amnésia histérica apaga tal
amargura.
Porém, ainda continua olhando,
Ainda continua na vaga Vida da prostituição,
Onde não há escapatória.
III
Por tudo, algo foi descoberto e irei contar.
Este mesmo olhar teve um brilho no mais profundo de seu
terreno observatório.
Para descobrir foi preciso vagar muito por esta terra-de-ninguém...
Um vago no tempo e no espaço.
A solidão que tudo mostra,
A tristeza que acalenta,
A amargura que abraça.
Eu, tu e eles,
Todos vivemos numa perfeita prostituição.
Onde entraves quaisquer
Dos soberanos aos paupérrimos,
Dos limpos aos sujos,
Dos que sabem aos que não sabem,
Entram e saem com mais facilidade nessa fiel prostituta
que é a Vida!
Já não importa mais o outro,
O que importa são seus entraves.
Na utopia, encontram-se gozos quaisquer
E, assim, me encontro feliz.
Feliz por coisa qualquer
No uso e desuso,
No que é banalizado,
No que é irreal.
Ainda busco uma forma de satisfação plena,
Onde o verdadeiro gozo irá vir ao meu encontro
Em prêmio aos meus tantos e tantos anos dessa busca
angustiante.
Enquanto é isso, me satisfaço com entraves que encontro em
meu caminho,
Pois, lamento, sou somente um quase vencedor.
E lamento por não conseguir mudar o que a Vida me proporciona
há tantos anos e tempos.
E nesta mesma-coisa-de-sempre permaneço
Com a fantasmagórica idéia de que um dia irei encontrar
meu traço perfeito,
Mesmo com tudo a minha volta me chamando o tempo todo para
ser um mero entrave.
Um homem prostituído, com seu entravizinho cheio de excrementos jogados por todas matérias vivas, de apenas mente e corpo, que interceptei
nesses medíocres anos!
E nesta poça de excrementos permaneço sandio e insaciável...
Castrado pela realidade ditada e imposta a mim, vivo com
as esperanças de um eterno prostituto de encontrar o gozo pleno num organismo-vivo mente e corpo com alma e coração.