quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A culpa é do outro

 


HEART AND SOUL - JOY DIVISION

Coração e Alma

Instintos que podem ainda nos trair
Uma jornada que leva até o sol
Desalmado e inclinado em destruição
Uma luta entre certo e o errado
Você tome meu lugar no confronto final
Eu olharei com um olhar lamentável
E humildemente, pedirei perdão
Um pedido muito além de você e de mim

Coração e alma, um irá queimar.
Coração e alma, um irá queimar.

Um abismo que ri da criação
Um circo completo com todos os tolos
Fundações que duraram as eras
Então arrancadas pelas raízes
Além de todo este bem, há o terror
O aperto de uma mão mercenária
Quando a selvageria transforma todas as boas razões
Não há volta, não há um ultimo á ficar de pé

Coração e alma, um irá queimar.
Coração e alma, um irá queimar.

Existência...bem o que ela significa?
Eu existo nas melhores condições que posso
O passado é agora parte do meu futuro
O presente está bem fora de controle
O presente está bem fora de controle

Coração e alma, um irá queimar.
Coração e alma, um irá queimar.
Coração e alma, um irá queimar.
Coração e alma, um irá queimar.


#-#-# (In) Blurry Oblivion #-#-#
  
Tentarei fazer o processo contrário do esquecer-embaçar. Na verdade será capturado aquilo que está embaçado em nossa realidade paralela, onde criamos um mundo próprio, a fim de deixarmos na superfície o que poderia ser esquecido de forma que não nos faça mal algum, pelo contrário, perceberemos que faz parte de nossa existência a evolução do modo de sentir afetos pelo outro, entendendo a função do outro em nossos vínculos.

A música acima traduz muitos dos sentimentos que todos nós, míseros humanos, bombeamos todos os dias e em diversos acontecimentos. Porém, tais sentimentos podem ser os nossos próprios traidores se não fizermos um exercício diário.

Infelizmente, nem tudo é como imaginamos... como diria uma canção do Lulu Santos "como uma idéia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de acontecer". Quantas e quantas vezes nos iludimos com situações e pessoas? Criamos uma grande utopia, onde enxergamos apenas a nossa versão pelo fato de ser mais confortável a nós. Projetamos nossos ideais e montamos um protótipo perfeito daquilo que estamos vivendo tão intensamente. E que tal pensar na função do outro neste exato momento? 

O outro está bem ali, participando ou não desse vínculo. Muitas vezes este não se entrega com a mesma intensidade... pois quem projeta e cria uma visão do outro tem mais afetos para doar do que o outro que simplesmente entrou na história. Quando percebemos a situação na qual nos doamos afetos grandiosos, os quais eram totalmente empenhados nesta doação, e percebemos a real função do outro, - que não está empenhado - logo surge um sentimento de incapacidade, algo que deprecia a nós mesmos.

Quem vai se queimar? Eis uma dupla infalível: coração e alma ou vida e morte.

O coração, ou a vida, seria a parte que estamos repletos de energia para doar o que há de melhor em nós para o outro. A pulsão de vida esta a todo vapor.

Quando nos deparamos com a real situação, a qual criamos uma realidade paralela confortável a nós mesmos, percebemos a função do outro que participa desta doação de afetos. Por não termos percebido tal função desde o começo a criação do vínculo há uma quebra da realidade que criamos. Isto gera um trauma sentimental. 

Depois da  fase do auto-depreciações, citada mais acima, concomitante ao trauma sentimental, percebe-se que a alma, ou a morte, vem à tona. Entramos numa segunda realidade paralela, repleta de horrores e angústias. Somos capazes de aceitar qualquer explicação simplista que se baseie em "algo que eu tenha feito de errado", ou seja, algo que culpabilize a nós mesmos. Pulsão de morte, poderia dizer.

Nisso, duvidamos de nossa existência e a questionamos... se tudo o que eu faço não há como controlar, faz parte de instintos inconscientes, logo, isto em breve será um passado responsável por aquilo que iremos colher no futuro. Ou seja, não tivemos culpa alguma.

E, de fato, "eu existo nas melhores condições que posso".

Conclui-se que Freud sempre esteve certo quando dizia que a culpa nunca é nossa e sim sempre do outro. 

Deixo-me por aqui com aquilo que poderia ser esquecido e embaçado em sua mais alta superfície, porém esta se encontra em esquecimento-embaçado, sempre.