domingo, 6 de fevereiro de 2011

Que sejas um...

Foto: Somos um a partir do outro.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim num candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”.
Mateus 5, 13-16

Peeping Tom - Placebo

Espião (tradução)

Cuidadoso para não cair
Eu tenho que escalar sua parede
Porque você é a única que me faz sentir muito mais alto do que você é
Eu sou apenas um espião
Sozinho por muito tempo
Problemas com a melancolia não deixaram nada mais a perder

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

A face que preenche o buraco
Roubou a minha alma destruída
A única que me faz parecer sentir muito mais alto do que você é
Eu sou apenas um espião
Sozinho por muito tempo
Problemas com as artes
Nada mais a temer

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

Mesmo com todas as apostas que eu perco
E todas as trapaças que atiro para o ar
Você ainda é a única
Que me faz sentir muito mais alto do que você é
Eu sou apenas um espião
Sozinho por muito tempo
Problemas com a melancolia
Não deixaram mais nada a perder

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

Eu estou vazio,
Eu estou nu,
Eu estou sem fé,
Eu estou com medo.

--

Permanecerei no contexto da postagem anterior, irei basear-me neste nosso esquecimento embaçado pelo outro que está ao nosso lado e nem perecebemos. Irei correlacionar, como sempre, a foto, o texto bíblico e a música da banda de rock alternativo Placebo.

#-#-# (In) Blurry Oblivion #-#-#

Habitamos num tornado sem saber. As nossas Vidas transbordam de agitação e hostilidade todos os dias. Claro, isso é mais que comum a todos nós... Acostumamos com a Solidão Cotidiana e não sabemos compartilhar mais nada, a não ser com quem queremos disputar (o nosso Concorrente da postagem anterior) alguma coisa. Acredito que podemos explicar isso.

Pois bem. Como disse Jesus no texto bíblico acima, se somos o sal da terra, como poderemos salgar se formos insossos? Jesus faz esta metáfora em relação a fé cristã Católica, em crer em Deus como nossa fonte única de Salvação Eterna. Nada adianta, mesmo se formos bons e fizermos a caridade por exemplo, se não tivermos fé, não seremos salvos. Agora direi o mesmo que Jesus, porém em um outro contexto. O que adianta possuírmos poder, sermos bens sucedidos e desfrutar de uma angústia inexplicável? É por isso que vivemos sem saber o verdadeiro valor que tem o outro em nossas Vidas, pois esta disputa desenfreada prevalece.

Parece patético ficar falando do outro a todo momento sem focar de fato neste tal "outro". Muitos não entendem e acham tão ridículo, diria, ficar falando de "seres fantasmagóricos" ou "seres imaginários" ou ainda "almas do além". Neste ponto, relacionarei a música do Placebo. No geral, percebe-se um sentimento íntimo do autor - diga-se de passagem que é o Brian Molko, vocalista e guitarrista da banda - e ele exalta que se sente mais alto que um certo alguém. E mais, que sem este outro alguém ele é algo sem valor, apenas um narrador observador (espião). Desta forma, ele se sente vazio, nu, sem fé e com medo quando está sem este alguém.

Na verdade, poderíamos entender através de diversos contextos distintos o que o autor desta música quis dizer com as suas palavras. Talvez um amor inatingível/platônico, enfim. Mas eu não pretendo tentar explicar o contexto exato e sim o que transparece ao contexto que quero explicar agora e que está nesta música. Precisamos do outro em nossas Vidas como o autor da música necessita deste alguém para sanar a sua melancolia. Desta forma, saímos do âmbito de narrador observador ou espião para a Empatia. Na Psicologia, este conceito pode ser atriubuído ao comportamento de sentir pelo outro - entrar na doença do outro (patia = pathós, doença em grego) - e aqui neste momento eu afirmo este mesmo significado em meu escrito. E acrescento mais, a Empatia a qual me refiro vai mais além ainda de entrar no outro. Como? Usarei um trecho de um poema muito lindo para tentar explicar o que quero explanar sobre isso:

"Não me interessa se a história que você me conta é verdadeira. Quero saber se você é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança."
Oriah Moutain Dreamer, "O Convite".

A Empatia então seria um voto de confiança para o outro. Como no poema acima, se somos capazes de errar e omitir que erramos ou se somos capazes de suportar todas as cruzes e decepções da Vida e ainda sim manter-se firme e digno de viver, sendo sincero com quem nos cerca. É este modo de Vida que podemos enxergar também como Empatia. Além de entender o outro em você, também entender os erros do outro como se fossem os seus e gostar deles, aprendendo a conviver com o outro e os seus atos errantes; atribuindo a você os erros do outro e sentindo como se tivesse errando como o outro e não fazer disputas e concorrências. Pensamos que ajudamos o outro quando mostramos que somos melhores, mostrando como exemplo as nossas práticas, o que fazemos de melhor na Vida, o que sabemos, mas nada disso importa para uma convivência plena e sadia com as pessoas. Sim, após o ato de empatizar-se, seremos fiéis a nós e ao outro, após esta Captação de Outro Ser em nós mesmos - isso seria Empatia em meu contexto, mudo somente a palavra para uma expressão.

Através de todas essas explicações, chega na parte final e logo após a conclusão da longa discussão de hoje. Se não podemos salgar com um sal insosso e se não podemos ser mais alto com a ajuda do outro, logo não podemos caminhar na trilha da Vida sem o outro. Somos um a partir do outro, como já citei algumas vezes em postagens anteriores. Na foto bem acima, fica evidente o que quero ressaltar agora. Somos diferentes, cada um com a sua cultura e o seu modo de agir, ser e pensar. Unindo tudo o que há de mais distinto em cada ser, podemos ser apena um. Mas somente, persisto, somente a partir do OUTRO. Quer um exemplo mais antigo e mais vivênciado por todos nós? Somos alguém sem as instruções de nossa mãe durante a formação de nossas personalidade na infância? Então...

Mais uma vez, está tudo esquecido e embaçado. Em todos os meus escritos termino assim, por isso que formulei a minha-ou-não teoria (In) Blurry Oblivion. Esquecemos por fazer da alteridade inexistente. Ou seja, por fazer da cultura alheia como se fosse somente uma pedra em nossos caminhos. E embaçamos por não se importar com a alteridade e nem com o outro que compõe esta alteridade, a alteridade dele mesmo.

Espero que nasçam por aí pessoas que sejam capazes de lutar pelo fim da hostilidade. Eu luto apenas neste humilde blog. Mas estou adquirindo conhecimento para isso, no meu caso, necessito entender mais a nossa sociedade e antes dela, a unidade do ser humano que a compõe. É claro, a partir do outro, pela centésima vez.

Por hoje é isso.

(In) Blurry Oblivion, até a próxima.



* Utilizei conceitos próprios e conhecimentos adquiridos em meus estudos para compor a postagem de hoje.
** Algo: me despeço desta maneira pois acredito que temos inúmeros esquecimentos embaçados e que vou tentando desmistificá-los ao longo de minhas postagens. Sei que é impossível descobrir tudo o que há me nossa mente, nem Freud conseguiu tal façanha. Por isso permaneceremos (In) Blurry Oblivion por todo o sempre.