O Pastor - Madredeus
Ai que ninguém volta
Ao que já deixou.
Ninguém larga a grande roda,
Ninguém sabe onde é que andou.
Ao que já deixou.
Ninguém larga a grande roda,
Ninguém sabe onde é que andou.
Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou.
Aquele menino canta
A cantiga do pastor.
Nem o que sonhou.
Aquele menino canta
A cantiga do pastor.
Ao largo,
Ainda arde,
Ainda arde,
A barca
Da fantasia...
Da fantasia...
E o meu sonho acaba tarde,
Deixa a alma de vigia.
Deixa a alma de vigia.
Ao largo,
Ainda arde,
A barca
Da fantasia...
Ainda arde,
A barca
Da fantasia...
E o meu sonho acaba tarde,
Acordar é que eu não queria...
Acordar é que eu não queria...
---> Hoje serei sucinta - sim, falta de tempo para elaborar algo mais profundo. Irei correlacionar apenas a canção acima (letra e aúdio) com as minhas percepções atuais.
#-#-# (In) Blurry Oblivion #-#-#
Tenho percebido uma imensa liquidez em tudo o que vejo... A liquidez, de acordo com sociólogo polonês Zygmunt Bauman, significa o modo precário, incerto e rápido com que a sociedade atual costuma se comportar. O líquido não mantém a sua forma com facilidade, se diferindo daquilo que é sólido.
Pois bem, é perceptível esta liquidez nas relações entre pessoas, na maneira das pessoas agirem consigo mesmas e com as outras, as suas atitudes e os seus feitos, enfim, na forma com que todas levam a maré da Vida. E com passar dos tempos, é possível reparar cada vez menos ligação continuada no modo com que as pessoas se unem umas com as outras, na situação do relacionamento propriamente dito.
Tudo se tornou banal demais... Por exemplo, podemos perceber tantos e tantos relacionamentos baseados na verdadeira base da troca ou então relacionamentos totalmente sem reciprocidade, onde somente um fica na base do investimento de afetos.
Isso acontece com todos nós... Comigo, com você, com a Lady Gaga, com o Michel Teló, com o senhor da padaria, com a moça que vende doces na portaria do prédio do trabalho, com o rapaz ali que acabara de passar na rua ou com aquela senhora que está varrendo o pátio do seu prédio logo aqui na frente. E que dirá com tais artista que citei anteriormente... A exposição causa em quantidade triplicada o processo da liquidez, pois com a multidão de pessoas com quem os artistas se deparam a cada dia, fica difícil fazer uma seleção natural de quem realmente compensa permanecer ao nosso lado. Por isso que os artistas são solitários.
A razão e a emoção não se misturam no nosso processo de eleição de quem estará ao lado. Elegem racionalmente e não emotivamente. A racionalidade prevalece, pois somente através dela pode se ter a exata idéia de como o outro "servirá", de qual forma, de qual utilidade etc.
O líquido não é capaz de penetrar onde há emoção... Ela vai muito além das moléculas em expansão e sem ligação dos líquidos. O interesse que cobiça e a não-permutação nas relações flui a cada dia, como um líquido... O líquido não tem paradeiro, ele pode ir e voltar a qualquer momento.
Ninguém volta, assim, para aquilo que já deixou. O líquido vai, sim, mas volta já com outros interesses, outros tipos de alcances. A utilidade do passado já não serve mais para as novas conquistas que almejas. E aquela mutualidade tão plácida com que realizou com exatidão enquanto precisou da troca de favores do outro... Vai ser usada durante um certo tempo para aquele outro que irá condicionar em um período momentâneo, até poder tirar o proveito do mesmo. E depois... O processo se sucede desta forma para sempre, até o dia que fizerem isso com a própria pessoa. E como dói.
E quando doer, será possível se lembrar dos sonhos do passado, quando era cultivado a emoção dentro das pessoas antes de ser aderido os modismos sociais, bem como o uso e desuso do outro. Ninguém consegue se lembrar daquilo que sonhou numa sociedade tão consumista, onde um e outro são vistos como mercadoria de maneira tão eminente.
Enfim, mais que esquecido e embaçado, a função real do outro em nossas Vidas está lacrado com uma senha tão difícil de se saber, assim como saber quantos grãos de areia temos numa praia qualquer...
E, assim, fantasias. É o que me resta. O meu sonho tarda, porém sou obrigada a acordar todos os dias antes que ele, de fato, venha à tardar.
Quem venha a solidez para selar o meu sonho e eu nunca mais ter que acordar. E que, somente assim, eu consiga descobri "aonde nasce a fonte do Ser" (Milton Nascimento).
(In) Blurry Oblivion - em Esquecimento-Embaçado me deixo por aqui.
Até um breve dia - ou não...
Até um breve dia - ou não...
É, Bauman, também sinto o que sentes...